Adoro o que Marcelo Tas escreve. É o que a gente pensa, mas não se dá conta...
Qual a coisa mais difícil que você já teve de aprender: raiz quadrada, andar de bicicleta, nadar, escrever ou esperar a sua vez de falar? Aprender é difícil. Ou, parece difícil. A gente nasce sem noção, nome ou idioma. Gastamos, em média, os primeiros 25 anos da vida para aprender uma profissão. Por outro lado, poucas horas depois do parto, sem aula de comunicação ou semiótica, já aprendemos que o choro é o atalho mais eficiente até o peito da mãe para matar a fome. Pensando bem, aprender, pelo menos no início da vida, parece fácil. Observe o número de coisas que a gente aprende entre 0 e 3 anos de idade: sugar, andar, falar uma língua, comer sozinho, desenhar, cantar, se defender da mordida dos amiguinhos do jardim da infância… Isso, é claro, para não entrar nos casos, cada vez mais frequentes, de pirralhos que jogam games e escolhem seus vídeos preferidos no YouTube.
Navego por esses pensamentos numa pracinha de São Paulo. Estou impactado pela evolução da performance dos meus filhos menores no balanço. Há mais de ano me aplico com afinco na tarefa de ensiná-los a ganhar impulso no brinquedo sem precisar de eu ficar empurrando. Agora, justamente depois de um período longe da minha supervisão, sou surpreendido pela desenvoltura com que ambos aprenderam a ganhar velocidade, suingue e controle do aparelho com uma facilidade inexistente anteriormente sob meu treinamento. Eles percebem meu ar reflexivo:
– Pai, quer ver como a gente vai alto?, diz Clarice.
– É só esticar as pernas quando vai pra frente. E recolher quando vai para trás. É fácil, emenda Miguel.
– Quem ensinou?, pergunto enciumado.
– O Caio! Diz Miguel com entusiasmo, revelando a gratidão com o amigo da classe.
Fico diante da cena com um sentimento duplo. Feliz por vê-los brincando leves no ziguezague simples.E, confesso, um pouco frustrado com o fato de que, após mais de um ano de tentativas de treiná-los exatamente com a mesma técnica, eles só tenham tido o “clique” do aprendizado com outro professor, o Caio.
Faço um retrospecto de quantas vezes já tentei ensinar alguém a fazer algo que me parecia fácil, usando toda a minha energia, sem sucesso. Olho os dois trapezistas no balanço – Clarice se dá ao luxo de fechar os olhos por um longo tempo para experimentar a sensação de “estar voando”, segundo palavras dela – e imagino como deve ter sido divertida e eficiente a “aula” do professor Caio. Três almas livres, despreocupadas, brincando e aprendendo juntas os segredos da Física e da arte pendular do balanço, sem pressão por resultados, sem a responsabilidade de agradar ou preencher uma expectativa dos pais. Aos poucos, minha frustração foi se transformando num suave contentamento.
O drama de educar os seres humanos vem de longe. Tudo começou há milhares de anos, desde que deixamos de ser macacos, ou em 1770. A frase é do educador alemão Dieter Lenzen, se referindo ao ano da criação da primeira faculdade de Pedagogia da era moderna, em Halle, Alemanha. A palavra pedagogia tem origem no grego: paidós, criança; agogé, condução; direção ou educação de crianças. Naquela tarde na pracinha, eu aprendi uma Pedagogia muito especial: a do aprender brincando.
MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três filhos: Luiza, 20 anos, Miguel, 8, e Clarice, 4. É âncora do “CQC” e autor do Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br
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